Estética e Poder: Os Carros Americanos

Carros americanos pós-guerra: cromados, largos e potentes, transformaram excesso em estética e poder.

Carros americanos pós-WWII não são apenas veículos: eles são monumentos rodantes da vitória e da abundância, troféus materializados em aço e na cultura do poder.

Foi o lar e origem do fordismo que moldou não só a economia e também a estética austera dos automóveis por décadas a fio, mas quem observa os sedans e coupés norte-americanos percebe facilmente a diferença em relação aos veículos europeus: há menos traumas e mais triunfos. Carrocerias largas, chassis bruto (quase um trator) nas camionetas, cromados brilhantes e o ronco dos V8 projetam confiança e supremacia.

Excesso virou virtude e a brutalidade expressada além dos maquinários militares, mas como forma de linguagem e de opulência controlada nos muscle cars civis domesticados para lazer e status. Se os europeus tentavam economizar combustível e espaço, os americanos ampliaram grades, alongavam portas e esticavam capôs, transformando automóveis e marcas em símbolos de liberdade individual e, ao mesmo tempo, de supremacia industrial e infraestrutura através das suas “highways e routes”.

O V8 portanto é uma afirmação de poder! Óbvio que ele existia antes, mas não era utilizado até então para que senhoras buscassem seus filhos na escola ou fossem ao shopping em gigantescos rabos de peixe com sinaleiras que simbolizam foguetes. Com acesso privilegiado ao petróleo puderam se dar ao luxo de consumir combustível sem limites.

Mensagem: abundância é potência. “Vencemos a guerra”, “podemos gastar”, “autoridade é consumo”, tudo com propósito e finalidade clara de transmitir superioridade. Para alguns é só fetiche; ostentação pura. Agora, convenhamos que se você não fica admirado quando vê ou ouve um Dodge Charger R/T ou um Mustang passar fazendo o chão tremer, sinto muito, mas você pode ter sido afetado pela estética da derrota.

Endrigo Vargas
Endrigo Vargas

Fundador e Diretor-Presidente do Instituto Multicultural e Socioambiental Hy-Brasil.
Ex-Secretário Nacional de Desenvolvimento Cultural do Governo Federal.
Gestor Público Profissional, Especialista em Cidades 4.0: Planejamento Urbano e Tecnologias.

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